Existia um supersônico Concorde que saiu de linha por ter ficado muito caro mantê-lo, ele tinha a segunda decolagem. Na primeira decolagem, a tradicional, os demais aviões chegam a certa altura e não mudam mais (chamada altura de cruzeiro), já o Concorde, quando chegava a certa altura, ele tinha previsto uma segunda decolagem, através da qual ele passava a velocidade supersônica. Nós, na nossa alma, necessitamos da segunda decolagem, ou seja, de uma segunda conversão.
A primeira conversão é aquela passagem em que ouvimos: “Eu era um bêbado, vivia drogado agora estou curado, pois, encontrei Jesus”, ou seja, deixamos os pecados grosseiros. É uma passagem da graça eficiente para graça eficaz (graça é uma só). Quando a graça cega a nós, ocorrem situações diferentes, por isso a divisão: eficiente e eficaz. Todo ser humano tem graça suficiente para sair do pecado, e, quando a graça permite sair dos pecados mais grosseiros, denomina-se graça eficaz, dá-se o sinal verde para Deus. Ou seja, nos convertemos, mas nada de exagero; continuamos com os pecados de estimação repetitivos, enfadonhos.
E o que impede a saída desse estado é a falta de desejo de uma segunda conversão. A segunda conversão acontece, quando me disponho a amar a Deus sobre todas as coisas, que exige que assumamos a radicalidade, e exorcizemos a moda de sermos chamados de fanáticos. A maioria quer ser católico, mas não quer exagerar, ser fanático. No seu estado de vida você é chamado a amar a Deus sobre todas as coisas. Se você é casado, deve amar a Deus mais que a sua esposa, que a seus filhos, mais que a sua vida.
Saia desta mentalidade protestante, todo protestante acredita na primeira conversão “eu era um bêbado...”, mas o que você produz com esta primeira conversão é uma vida mais ou menos cristã. Os protestantes não acreditam na santidade, na segunda conversão. Então o protestantismo tirou o concorde de linha, tirou o vôo supersônico.
Nós, católicos, acreditamos na segunda decolagem e o nosso coração está inquieto. Nós não podemos nos contentar com lavagem porca da vida de pecado, mas também não podemos nos contentar com de vez em quando sentir saudade do chiqueiro. Porque não desejamos a segunda conversão, nós colocamos em risco a primeira, porque o avião vai perdendo altitude e um belo dia ele cai.
Se não buscarmos Deus, cada vez mais nós não conseguiremos a segunda decolagem, que tem como virtude principal a caridade. Se pedirmos a Deus que queremos amá-Lo acima de todas as coisas e insistirmos, por graça divina, isso nos será dado. Como você vai pedir, se você não acredita? Se não for plenamente católico, não vai acreditar que essa santidade existiu, como a de São Pio, um santo contemporâneo nosso, nele vemos a graça de um homem do século XX. Um dos Diretores Espirituais do Pe Pio testemunhou que jamais viu nele o menor sinal de um possível pecado venial na área da sexualidade. Era um lírio de castidade e só pode ter alcançado isto através do dom de amar a Deus sobre todas as coisas. Ele era um homem viril, mas vivia a castidade como dom.
Então, se eles viveram isso (os santos), por que nós não? Nós estamos no comodismo burguês, numa moralidade burguesa do dia-a-dia, que não quer se incomodar com uma conversão, “eu estou tranqüilo na comodidade burguesa”. Eu tenho que me incomodar, eu tenho que desejar a segunda conversão. Você assume que não tem a segunda conversão e quer amar a Deus mas não o ama acima de todas as coisas, entretanto, gostaria de amá-Lo. Você precisa, então, da segunda decolagem dos mártires.
Acho que nenhum protestante nega o carisma que é o martírio, tal desprendimento, a ponto de deixar-se martirizar. E ainda dizem que este homem que se martirizou está no mesmo nível que eu e você, nessa safadeza, nessa sem-vergonhice, que está no mesmo nível de nós. Ah! Para com esta sem-vergonhice! Para com essa mediocridade!
Existem homens e mulheres que se doaram e se entregaram em santidade, o amor se fez carne, o coração que ama a Deus sobre todas as coisas se fez carne, se fez homem, é real. O coração de Cristo é o coração humano perfeito que se fez carne. Agora, o Cristo se faz vivo nos Santos, como São Paulo declarou. Vivo, mas é Cristo que vive em mim. Os santos podem dizer isso, pois, é Cristo que mora neles, eles amam a Deus sobre todas as coisas.
Esta é a segunda decolagem, para alcançá-la devemos desejá-la, precisamos pedir, suplicar, que chova esta justificação, que saiamos de uma graça atual medíocre para uma habitual, no estado de santidade que nos faça participar do Paraíso. O cristianismo por fora é uma chama ardente que parece destruir tudo, mas por dentro tem uma unção que só quem vive sabe. Padre Pio viveu o amor de Cristo sobre todas as coisas, e isso já era uma bem-aventurança no meio dos tormentos, era uma participação antecipada. Bem-aventurados os pobres de espírito, pois, deles é o Reino do Céu. Meu irmão, vamos decolar, suplique, peça, não nos conformemos com a mediocridade de uma santidade burguesa. Por que só o mal pode ser radical? Por que o bem e o amor de Deus não podem ser radicalmente presentes em nosso vôo?
Pe Luiz Augusto
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